Parte 2
Leia ouvindo: You Lost Me (Christina Aguilera) https://www.youtube.com/watch?v=WOKI_tIBWVI
Lola, a louca
Já se passaram alguns meses e eu ainda sinto o cheiro do seu
perfume barato na minha camiseta. Mesmo sentindo muita falta dele, não queria
ter nada que o lembrasse por perto.
- Mamãe pode jogar essas coisas para o lixeiro recolher?
- Você tem certeza?
- Tenho sim. Não servem para nada.
Entreguei para mamãe uma caixa cheia de ursos, revistas e
CDS que Luca tinha me dado. Ela jogou no latão de lixo do lado de fora da casa,
mas não parecia o suficiente pra mim. E logo coloquei fogo.
- Hey! Desse jeito a camada de ozônio vai ser destruída
mesmo. Tá querendo matar todos nós asfixiados? – Esse era Will , nosso novo
vizinho. Ele é até gatinho, mas meio irritante às vezes.
- Vai mesmo cuidar do lixo alheio?
- Só estou querendo salvar o mundo esquentadinha. Tsss!
Will saiu andando rumo à sua casa verde. Sim
sua casa era verde, verde musgo para ser mais exata. Eu nunca fui fã de verde.
E a alegria por morar num lugar assim me irritava. Aliás, muita coisa me
irritava. Até o som dos pássaros e o barulho da mangueira ligada do senhor Tom
molhando a calçada.
Entro no meu quarto e
sinto uma vontade incessante de derrubar alguma coisa. Jogo o vaso de barro
que mamãe fez pra mim na parede, e alguns troféus de competições de redação da
escola aparecem quebrados debaixo dos meus pés. Respiro fundo enquanto um
pedaço de vidro acaricia minha pele fria e se banha em sangue.
As coisas começaram a sair do meu controle. E mamãe não pensou
duas vezes ao me colocar numa terapia.
- É sério isso? E qual o próximo passo? Me internar? –
Perguntei frustrada.
- Lola você está saindo dos limites. Desde que Luca se foi
você está, está... – Tenta dizer mamãe, enquanto olha para meu braço enfaixado.
- Tô o que? Louca?
- Diferente.
- Mamãe por favor!
- É para o seu bem minha filha. Não queremos mais vasos
quebrados e nem ligações de seus amigos no meio da noite. Estamos todos
preocupados com você.
- Deveriam se preocupar com a própria vida.
Mamãe me olha como se eu tivesse dito a maior besteira da
minha vida.
- Tudo bem. Eu vou. Mas se eu começar a ficar entediada e
ver que isso é perda de tempo, e acredite, eu sei que é, se não resolver nada
eu saio daquela sala pra nunca mais voltar.
Entro no prédio com minha calça rasgada e minha camiseta do
Guns, calçando meu All Star velho. Depois de fazer o cadastro médico, sento em
uma poltrona um tanto desconfortável, com várias pessoas me olhando como se eu
fosse louca. Ao meu lado uma mulher chora enquanto abraça uma boneca de pano
chamando - a de “minha filha”. E eu me perguntava se realmente precisava estar
alí. Alguns minutos depois a recepcionista me chama.
- Lola Mourine, você é a próxima.
A próxima para o que? O abate? A forca? A prisão? O que
viria ali pra frente? Meu julgamento? Entrei na sala e me deparei com a imagem
de um anjo.
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