quinta-feira, 3 de março de 2016

Outra chance - Parte 1

Pra ler ouvindo: https://www.youtube.com/watch?v=3ou8PXfDhFI

"Olha pra um ponto fixo. Mantenha um ponto fixo", me diziam. Mas sinceramente, como eu manteria o foco em um ponto fixo se tudo ao meu redor estava girando? Todos pareciam borrões de tinta e meu coração batia tão rápido que parecia querer saltar pela boca. Senti como se estivesse em um brinquedo de parque de diversões, daqueles que rodam tão rápido que você perde o ar e a nitidez da visão. Até que então, finalmente, tudo ficou escuro. Acordei na cama do hospital algumas horas depois.

- Lola? Lola querida. Sou eu, sua mãe. - Meus olhos apenas observavam as sombras que surgiam ao meu redor e que iam ficando aos poucos mais nítidas.

- Mãe? O que.. o que houve?

- Você levou um susto um tanto grande...

- Susto? Que... que tipo de susto?
 Mamãe me olhou de um jeito estranho como se tivesse algo muito importante e ao mesmo tempo muito difícil pra me contar. E comecei a me assustar outra vez.

- Mãe? Ta tudo bem mesmo? - Pensei em Luca - E o Luca? Vocês o avisaram que eu estou aqui? Mãe, ele precisa saber, íamos nos encontrar hoje e... - Mamãe começou a chorar do nada, enquanto papai surgia atrás dela, um pouco mais sereno.

 Papai sempre teve um pouco mais de estrutura emocional do que a mamãe e eu juntas. Mas eu percebi que algo estava realmente errado, quando ele sentou na beirada da cama de hospital que eu estava, segurou minhas mãos e apertou forte.

- Pai?

- Filha, o Luca... ele...

- O que tem o Luca? O que... o que tem meu namorado? – Comecei a me desesperar.

- Filha o Luca e você sofreram um acidente...

- E onde ele tá pai? Onde ele tá? – Me afobei.

- Filha... por favor tenha um pouco de... – Me olhou – O que estou dizendo? Não posso te pedir isso. Filha o Luca morreu. Ele foi arremessado pelo vidro do carro, eu sinto muito meu bem.

Fiquei sem acreditar. Não era possível. O meu Luca. O meu amor. O cara que mais me fez feliz na vida, estava morto.

- Não. Não é verdade... ele... não... pai...?!

- Eu sei meu bem, sinto muito. – Papai me abraçou forte enquanto as lágrimas tomavam conta do meu rosto e uma dor insuportável, dominava meu coração. Eu quis gritar, mas até minha voz me abandou naquela hora.

 Sai do hospital e todos me viam como uma vitoriosa, por ter sobrevivido a um acidente daqueles. Mas eu não me sentia assim. Parte de mim havia morrido ali. Não queria ir ao enterro, mas todos contavam com minha presença. Escrevi uma carta para que todos soubessem o tamanho do nosso amor.


 “Parte de mim morreu com o Luca. Meu amor. Aquele que me completava. Aquele que sabia melhor do que ninguém todas as minhas alergias e quais molhos eu mais gostava no sanduíche. O cara que me levou no mirante pra ver o pôr do sol, mesmo sabendo que iria chover e ficaríamos ensopados. O cara que me fazia rir até com as piadas mais sem graças do mundo. O cara que me pediu em casamento naquele mesmo dia, sem eu ter a chance de dizer, sim. Mas tudo bem, porque eu sei que em algum lugar, algum dia, nós vamos nos encontrar outra vez, e você vai estar com aquele mesmo sorriso lindo que me fez ficar completamente apaixonada. E você pode ter certeza que eu fui a mulher mais feliz do mundo por ter tido a dádiva de ser sua por todo esse tempo. Te amarei pra sempre seu branquelo. De todas as maneiras possíveis, em todas as línguas possíveis. Porque eu sei que não importa onde você esteja, meu amor vai chegar até você.”

O dia era ensolarado e o céu parecia alegre. E não podia ser diferente, afinal, ele acabou de receber um anjo.