Andei mais um pouco e um moço de uns 22 anos mais ou menos, estava com uma pasta em baixo do braço e pegou o Ônibus, certamente ia para a faculdade pois estava com pressa.
Então um carrão parou do meu lado e dele desceu um homem de terno e gravata com uma maleta na mão. Advogado quem sabe! Ele me deu boa tarde e atravessou a rua.
Quando eu estava chegando em casa já quase virando a minha rua, um menino de uns 7 anos de idade me pediu dinheiro para comprar um lanche. Eu não tinha nada para dar a ele e senti um aperto no peito me lembrando dos homens que vi a caminho de casa.
Aquele garoto podia ter a mesma chance que eles.
Talvez um dia ele fosse um grande homem e bem sucedido.
Então olhei para aquela criança e perguntei:
- Você tem um sonho?
Ele mexeu a cabeça dizendo que sim.
- O que quer ser quando crescer?
- Eu quero ser lixeiro que nem meu pai.
Meus olhos encherem d´água e então disse a ele:
- Se você tiver fé, será o que quiser ser, mas tem que fazer isso com sua própria força, não vai ter sempre alguém te dando dinheiro ou comida. Você pode mais que isso.
- Mas estou com fome moço.
- Então venha até minha casa que te darei comida. Mas é só isso que posso fazer por você.
O garoto segurou minhas mãos e me seguiu até em casa.
Eu fiquei pensando em quantas pessoas ele confiou nas ruas, e se eu fosse um pedófilo ou coisa assim? Hoje em dia é tão fácil fazer mal a alguém e ele simplesmente aceitou a entrar na casa de um estranho só para comer. Ele realmente precisava de ajuda.
Alimentei o garoto com pão e leite e então ele foi embora.
15 anos depois eu andava pela rua e vi um rapaz bem vestido com uma pasta em baixo do braço. Ele sem querer esbarrou em mim e disse:
- Desculpe senhor!
Então olhei para ele e não tive dúvidas. Eu o conhecia de algum lugar. Então quando percebeu quem eu era, me deu um abraço e disse:
- Aquele foi o melhor pão com leite que eu já comi. Obrigado. Agora tenho que ir para a faculdade. Faço controle ambiental! Até logo senhor!
Foi a última vez em que vi o rapaz. Mas não foi a última vez em que ele me viu.
Estou cego e em um asilo, mas ele ainda me visita.
Leka Ribeiro