Ó Bardos da Paixão e da Alegria,
Vós deixastes na Terra as vossas almas!
Tentes almas também no paraíso,
Que vivem outra vez em regiões novas?
Sim, e comungam as do paraíso,
Com as esferas do Sol e com as da Lua;
Com o sussurro de fontes admiráveis
E com as vozes que falam no trovão;
Com o murmúrio das árvores do céu
E uma com outra, em doce bem-estar
Nos elíseos reuvados assentados,
Onde cheiram a rosa as margaridas
E a própria rosa adquire uma fragrância,
Um odor que na terra não existe;
Onde gorjeia o rouxinol um canto
Nem sem sentido, nem como que em transe,
Mas divina verdade melodiosa;
E contos e douradas narrações
Que versam sobre o céu e os seus mistérios.
Assim viveis lá em cima, e ao mesmo tempo
Aqui na Terra vós viveis de novo;
E as almas que deixastes ao partir
Ensinam-nos, aqui, como encontrar-vos
Onde se alegram vossas outras almas
Sem nunca adormecer, nunca saciar-se.
Vossas almas terrestres aqui falam
Aos homens, sempre, da semana breve,
Das mágoas que eles têm, de seus prazeres,
E de suas paixões e de seus ódios,
De sua glória e da vergonha sua,
Do que dá forças e do que mutila.
Assim nos ensinais sabedoria
Diariamente, apesar de ter-vos ido.
Ó Bardos da Paixão e da Alegria,
Vós deixastes na Terra as vossas almas!
Tendes almas também no paraíso,
Que vivem outra vez em regiões novas!
John Keats